sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Começando a conhecer a Austrália...


Neste domingo completo 4 semanas aqui na Australia e conversando com algumas pessoas que tambem saíram do Brasil, vejo o quanto meu planejamento valeu a pena. Sim, estou enfrentando e irei enfrentar dificuldades, mas NADA comparado com as “histórias de horror” que me contaram.
A principal dificuldade que encontrei até agora está em saber que não estou em férias. Pode parecer besteira, mas isso faz uma diferença ENORME - em ferias voce fica uns 7-10 dias e vai pra gastar, mas quando vai “pra ficar” voce sabe que não pode gastar e sabe que não importa quanto dinheiro tenha levado, se “esquecer” de arranjar emprego logo terá uma surpresa BEM desagradável.

Isso muitas vezes me prende em casa por receio de gastar o que não devo (comic book store tem umas 3 só aqui no bairro!), afinal ainda estou aprendendo meu gasto mensal e se demorar a conseguir trabalho posso me complicar se descuidar das finanças.
Já passei por algo parecido por pelo menos 3 vezes – quando me mudei pra Floripa, Recife e Boa Vista – mas em Floripa tive MUITA ajuda até pra conseguir emprego e tanto Recife quanto Boa Vista já fui empregado, o que diminuia demais as preocupações.

A questão de conseguir emprego aqui é fácil assim como é complicado. É fácil porque tem muitas oportunidades e qualquer coisa te paga o suficiente pra voce viver bem – sem luxos, mas com conforto – mas é complicado porque como aqui sim é um país sério, tudo precisa de licença. E tambem por ser país sério, é complicado conseguir trabalho sem visto que permita trabalhar.
Pra piorar ainda mais, desde o ano passado o governo tem feito propaganda pesada contra imigrantes, com chamadas na TV e tudo mais.


De resto está seguindo de acordo com os planos: já tenho um lugar legal pra morar, com gente muito legal pra compartilhar a casa (um casal de vietnamitas e um pós-adolescente australiano), tenho conta no banco com cartão, cartão do mercado, cartão de transporte público, estou acabando de tirar licença pra poder trabalhar na minha área... E um tanto frustrado com meu ingreis, quando fui ao Peru em 2008 estava BEM melhor...

Ainda entendo boa parte do que dizem, menos quando pego um com sotaque mais forte e que fala rápido demais, meu inglês é made in USA (filmes e séries, claro!) com um pouco de conhecimento do sotaque britanico (Top Gear rules! 8-) ), mas o sotaque australiano é muito ruim de entender (falar ao telefone é quase impossível) quem duvida que vá assistir Crocodile Dundee ou Mad Max sem legendas hehehe

Mas é na hora de falar que eu estou travando muito!
O vocabulário eu tenho de sobra e a moça vietnamita até comentou que falo melhor que ela que vive aqui há 4 anos, mas ainda estou com muita dificuldade pra pensar em ingles e isso está atrapalhando demais, por isso mesmo tenho evitado entrar no Feissebuqui...

Outra coisa que foi e ainda é muito complicado pra mim é o lance da alimentação. Eu já imaginava que seria assim e me planejei pra isso, mas enfrentar a realidade é muito mais difícil.
Aqui existe uma enormidade de opções para absolutamente tudo e tenho que ficar ‘testando’ aquilo que compro. Ex banal é chocolate em pó, que até hoje ainda não encontrei um que goste - até porque a maioria é feito de malte, estilo Ovomaltine.
Fora a imensidão de junk food, a impressão que dá é que tudo está carregado de produtos químicos e essa impressão é reforçada depois de uma semana, quando voce vê no vaso sanitário que as coisas estão mudando de cor...
Um ‘Miojo’ vietnamita que é vendido por aqui. Tempero comum + vegetais desidratados + um molho apimentado:


Outra diferença cultural interessante é na limpeza doméstica.
Aqui é tudo na base do aspirador ou spray, quando fui lavar o banheiro pela primeira vez quase ferrei tudo querendo lavar com agua hehehe
Da esquerda pra direita: spray pra limpar vidros, pra limpar carpetes, pra limpar de tudo (usei pra limpar o chão e balcão da cozinha). Aquele mais a frente é pra lavar as mãos, um tipo de hidratante sem sabão que funciona como... Sabão!


No mercado, como esperado, tudo é igual ou mais barato que no Brasil: o desodorante que no Brasil custa R$12,00 aqui custa AUD$10,00 e tem o dobro do tamanho. Barbeador que aí custa R$30,00 o par, aqui custa AUD$32,00 com 4 pares (total de 8 un, pra quem se confunde :P ). E eu menciono isso porque são itens do dia-a-dia que geralmente custam caro no Brasil, já comida e higiene geralmente tem preço ridículo de baixo, por exemplo uma caixa de suco de laranja com 2L custa míseros AUD$1,69...

Mas o interessante é ver os detalhes que eu não esperava: poder pagar sozinho sem precisar de atendente, que deveria ficar ali pra prevenir furtos e na verdade só fica corrigindo as cagadas (parece fácil, mas tem um sensor maldito que sempre apita quando eu tiro a sacola, aí trava tudo hahaha), em cada corredor do mercado tem uma lista dos tipos de produto e em qual corredor está (ex: açucar fica no corredor 3; comida de cachorro fica no corredor 7, etc).


Os carrinhos de compra tem 4 eixos, mais dificil de manobrar e te obriga a ir mais devagar (pra te induzir a gastar o que não quer). Além disso, tem uma separação na frente pra colocar produtos de limpeza (ou o que voce quiser, obvio).
Além das cestas normais que temos no Brasil, existe uma com rodinhas e puxador, pra compras pequenas e pesadas.
E um corredor frio exclusivo com comida para animais domesticos. Achei isso o maior barato, a primeira vez que fui passando até achei que era comida de consumo humano mesmo, bem legal!


Sobre Brisbane, já disse para algumas pessoas que parece uma Floripa melhorada, de primeiro mundo: cidade relativamente limpa, com muita área verde (mas estranhamente sem árvores nas calçadas), pessoal extremamente cordial com muita mulher bonita de olhos claros (e é comum usarem short mostrando parte da bunda), transito normal mesmo nas horas de pico, clima bem quente com vento bem forte no decorrer da tarde (vento ‘suli’ :P ) e friozinho a noite com céu bem azul o dia inteiro sem aquela sensação de poluição.
Aqui eles tambem são um tanto protecionistas como o povo de SC, desde propagandas na TV até design das embalagens de produtos estão cheios de "Australian Made", mas de uma forma diferente do "Made in Brazil", muito mais parecida com as propagandas da Koerich.
E, assim como Floripa, MUITA aranha pra todo lado!



O transporte público é excelente, os ônibus todos com arcon e suspensão a ar (abaixam pra pessoa entrar) e é normal chegar exatamente no horário marcado (todo ponto tem uma tabela com os horários que vai passar por ali) assim como é comum o pessoal reclamar quando atrasa 2-3 minutos. Os trens não são tão limpos e bem-cuidados quanto o metro de SP-capital, mas são bons e chegam sem atraso.
OBS: NÃO EXISTE catraca em lugar nenhum! Perto das entradas e saídas das estações ferroviárias há um totem de concreto que voce passa o cartão e nos ônibus há o mesmo sensor preso nas barras de ferro, mas sempre sem catraca.
Imagine deixar sem catraca no Brasil...

Outra coisa que estou gostando bastante por aqui é a ausência daquelas "cirandas sociais" sem sentido...
Sabe quando alguem te oferece um pedaço de chocolate e voce SABE que a pessoa está torcendo pra voce dizer não? E voce acaba dizendo não porque sabe disso, mas aí a pessoa quer mesmo que voce aceite e acaba insistindo, aí voce não sabe se está insistindo porque quer que voce pegue ou só pra voce não ficar sem-graça e assim por diante...

Pois então, aqui se alguém te oferece algo pode aceitar que é pra pegar mesmo. Como quando meus vizinhos de quarto me chamaram pra jantar com eles, fiquei "meio assim" até que percebi que era pra ir mesmo, aí acabou rolando um papo bem legal com eles.
Ou quando eu estava no mercado e ofereci minha vez na fila pra mulher com criança logo atrás e ela recusou, eu até pensei em insistir, mas vi na cara dela que não estava a fim mesmo.
É um alívio enorme quando as pessoas dizem o que pensam e querem, voces nem imaginam!

Mais uma: aqui todo mundo te dá bom dia quando topam contigo ou dá tchau quando vão sair ou perguntam como voce está...
E não é igual Floripa por exemplo, que todo mundo tambem faz isso. Aqui mesmo se for um caixa no supermercado, o caixa da rodoviária ou o vizinho de quarto, quando voce responde de forma a prosseguir na conversa o papo vai longe!  
Sei lá, parece que as pessoas se importam de verdade, é um lance bem legal!