terça-feira, 8 de agosto de 2023

Os Estranhos

Tinha uma casa bem antiga perto da ferrovia numa cidade afastada no oeste dos USA. Lá viviam 3 homens de meia idade, mas do tipo europeu recluso, não se misturavam, ninguém conhecia direito. 

 Eu era um xerife recém-transferido e uma vez fui para esta casa escoltando a prefeita do vilarejo local pra acertar algum detalhe com eles. Tinha que mudar a ferrovia e não só ficava perto da casa deles, mas ia custar muito dinheiro e eles eram ricos então a prefeita queria ajuda financeira. 

Eles não queriam saber de muita conversa, tiveram uma reunião rápida com a prefeita já no final do dia quando estava escurecendo e não disseram que iriam ajudar, mas também não negaram então a prefeita deixou os papéis com eles pra analisarem. Mas enquanto estávamos la eu notei uns objetos meio estranhos na decoração da sala, pareciam artesanato antigos que eu não tinha certeza onde havia visto antes. 

Mas já era tarde, então escoltei a prefeita até a casa dela e fui fechar a delegacia. Na delegacia o meu ajudante estava me esperando. Ele era um homem local muito supersticioso e começou a me contar os causos a respeito daquela casa: que os avós diziam que aqueles homens moravam lá desde quando eles - os avós - eram criança, que ninguém na vila os viam nem sabiam de onde tinham vindo ou como viviam já que não apareciam nem pra comprar comida. Desconsiderei já que não acredito nessas coisas. 

Trancamos a delegacia, cada um foi pro seu canto, mas no dia seguinte o ajudante não apareceu pra trabalhar. Ele morava sozinho, não avisou nada que ia faltar e não atendia o telefone, então fui até a casa dele pra ver se estava tudo bem. A porta da frente estava fechada, mas a janela dos fundos estava quebrada. Entrei, mas não encontrei nada mais quebrado, nada fora de lugar, só a janela quebrada mesmo e, o amuleto que ele nunca tirava do pescoço porque era presente do avô, estava no chão. 

Foi aí que notei: esse amuleto parecia ser da mesma coleção que eu havia notado na casa dos 3 homens, então fui lá pra ver se eles sabiam de algo, mas quando chamei ninguém atendeu, a casa parecia vazia. Mas a porta estava entreaberta e, pela janela, eu vi o no chão o colar do meu ajudante, aquele mesmo colar que ele usava com o amuleto do avô, então entrei de arma em punho e fui investigar. Peguei o colar do chão e notei que estava manchado com umas gotinhas de sangue. 

Continuei olhando pela casa e, quando cheguei na sala, comparei o amuleto com os outros artesanatos da decoração e realmente, eram tão similares que poderiam ter sido feitos pela mesma pessoa. E ouvi um barulho no porão. Fui investigar, mas que as luzes não acendiam. Aliás, pela primeira vez me dei conta que a casa parecia não ter energia elétrica, em vez disso tinha umas lamparinas a querosene então peguei uma, acendi e fui descendo as escadas do porão e quanto mais descia, mais ia sentindo um odor fétido e antigo, parecia um museu de coisas antigas misturado com cheiro de múmias e bicho morto. 

Então minha lamparina se apagou sem motivo e alguma coisa segurou meu tornozelo tão forte que parecia armadilha de urso, quase furando minha pele, parecia que ia quebrar o osso. Sem ver - estava escuro - apontei minha arma, atirei e o que quer que tivesse agarrado meu tornozelo largou e com os flashes dos tiros achei que tinha visto um vulto, mas não fiquei esperando e subi as escadas correndo. 

 Quando saí do porão um dos homens estava na porta segurando o corpo do meu ajudante pelo pescoço, cujo corpo mole já estava sem vida. E o homem me olhou com olhos frios, inclinando o pescoço de lado como se indagasse algo sem dizer nada. Então largou o corpo de meu ajudante e se jogou pra cima de mim. Eu saltei de lado, arma já atirando, mas não parecia fazer nenhum efeito, era como se as balas passassem através dele sem atingir nada. 

Continuei correndo pela casa tentando sair e tropecei em algo, caindo em cima daquela coleção de artefatos. Quando as peças caíram no chão, ouvi três gritos guturais vindo de lugares diferentes na casa: um parecia estar vindo do porão, o outro vinha do homem que havia me atacado e o outro vinha sei lá de onde. Junto com os gritos ouvi ruídos de coisas caindo, como se animais fossem animais grandes soltos e correndo dentro da casa. 

Peguei algumas peças desse artesanato e corri pra fora da casa, mas já era noite e não sei se tinha saído pela porta errada ou se a escuridão era tão profunda que eu não conseguia ver onde estava minha viatura. E não ia ficar procurando, eu queria era distância daquele lugar, então corri na direção que deveria estar a ferrovia até que bati de frente com um vagão, mas mesmo quase tendo quebrado o nariz me levantei rápido e entrei pra tentar me esconder e recarregar meu revólver. 

Mas eu não tinha muitas balas - não havia necessidade de carregar muita munição naquela vila pequena - e além disso os tiros que dei antes não tiveram nenhum efeito. Recarreguei mesmo assim e resolvi olhar aqueles artefatos que peguei de dentro da casa. Pareciam feitos de jade, mas ao mesmo tempo que pareciam pedra, tinham textura e peso de metal. 

Era estranho, não dava pra descrever. Olhando o amuleto do meu falecido ajudante decidi improvisar um colar com um barbante que encontrei no chão do vagão e pendurei no meu pescoço. Parecia ser a coisa certa a fazer. E notei que entre as outras peças tinham umas contas que eram quase do tamanho do cano do meu revólver. 

Não sei se por instinto ou o que me levou a fazer isso - quero crer que o espírito de meu ajudante me guiava - mas tirei as balas do revólver com os dentes e substituí o chumbo por essas contas de pedra/metal estranhas. Não foi fácil, quase quebrei meus dentes, mas consegui e usei o cabo do revólver pra bater as contas dentro dos cartuchos. E foi bem a tempo, porque o barulho que fiz atraiu aquelas criaturas infernais que já estavam quebrando o vagão com as próprias mãos. 

O primeiro dei sorte, ele abriu um buraco na parede e colocou a cabeça pra olhar, que foi recebida com um tiro na testa. Ele caiu pra fora e só ouvi os gritos dos outros então senti novamente aquele cheiro fétido do porão. Os outros dois se jogaram através desse mesmo buraco, mas tão rápido que eu não conseguia mirar. Atirei mesmo assim, um deles acertei 3 tiros sendo que um foi na cabeça e esse também caiu. 

O terceiro acertei 2 tiros, um no peito e outro no ombro, mas já estava sem balas quando ele me alcançou. Felizmente as balas improvisadas deixaram ele mais fraco então consegui me defender segurando suas garras longe de mim enquanto ele tentava me morder como se fosse um animal selvagem. 

Consegui usar minhas pernas pra jogar ele longe, que caiu em cima de alguns implementos agrícolas e, já enfraquecido pelos tiros, ficou empalado se contorcendo. Me aproximei com cautela e, mesmo empalado sem conseguir sair, ele continuava tentando me morder. Então vi um cabo de enxada quebrado no chão e lembrei dos filmes de vampiro que via na TV e enterrei no coração da criatura. 

Ele fez cara de susto, então sorriu um sorriso maléfico e disse com voz gutural: você tem visto filmes demais, garoto. E lentamente começou a se livrar do implemento agrícola. Eu peguei o outro pedaço do cabo de enxada e comecei a golpear a cabeça dele que não parava de sorrir e me olhar fixamente enquanto saía do enrosco. 

Então sem saber porque arranquei de meu pescoço o amuleto de meu falecido ajudante, amarrei na ponta do cabo da enxada e com toda força que ainda me restava, soquei dentro da boca dele e finalmente ele parou de sorrir e caiu morto...